Se pensar fosse caro começaríamos a valorizar e deixaríamos de cometer erros fúteis.















segunda-feira, 28 de março de 2011

Quem Traiu Jesus. Rabino Nilton Bonder

O Em pleno período da Páscoa arqueólogos apresentam um pergaminho com outra versão sobre o comportamento do personagem Judas. Figura essa de quem se carreou a identificação com os judeus milenarmente associados à acusação de deicídio. Essa era uma das questões mais importantes do documento Nostra Etatae (Nossa Época) articulado sob a liderança de João XXIII e que revia as relações católico-judaicas em suas questões mais básicas. E nada mais básico do que a identificação do judeu com o traidor, o desleal e o infiel.
As teologias têm normalmente a função de responder perguntas iniciadas por "por que": o porquê da vida, da morte, das tragédias e das injustiças. No entanto, qualquer teologia produzida a partir do pronome interrogativo "quem" exige cautela. Isso porque para tal pronome a única resposta sagrada e madura é a que evoca os sujeitos "eu" ou "nós".
Quando da destruição do Segundo Templo e da devastação de Israel pelos mesmos romanos que torturaram e executaram Jesus, a teologia judaica se perguntou: "Quem é responsável por tanta destruição?" E para responder a um "quem?" de forma madura tiveram que corajosamente reconhecer: nós mesmos. Foram as próprias iniqüidades e perversidades do povo que trouxeram as destruições e agruras das quais eram vítimas. Em absoluta afinidade com a mensagem profética que cobrava tudo da própria consciência humana, os rabinos lavaram as mãos dos romanos para evitar uma teologia de demonização que só serve para evadir-nos do verdadeiro processo espiritual que é o aperfeiçoamento e o crescimento humano. Não o fizeram como um ato magnânimo e ingênuo de perdão, mas por perceber que não haveria forma saudável de traduzir a tragédia que não fosse assumindo a responsabilidade e evitando a busca da culpa de terceiros.
O pecado original humano é não ter entendido a pergunta que o Criador fez a Adão após comer do fruto proibido. Em vez da pergunta "onde estás?", Adão imerso em culpa pensa tratar-se de uma admoestação iniciada por "quem?". Como uma criança incapaz de assumir a si mesma e seus atos, ele aponta para Eva e esta para a serpente como culpados. Mas a serpente não está fora, muito menos no outro, mas em si. Essa é a função messiânica principal: resgatar-nos a responsabilidade que advém da habilidade de responder sem recorrer a outros culpados, a "quem?".
É chegada a hora de selar essa pergunta a não ser que ela seja respondida de forma teológica. Quem matou Jesus? Nós. Muito em particular todos os cristãos. Quem são os sacerdotes colaboracionistas? Os do Templo, mas em particular todos os cleros que para salvar suas instituições sacrificaram indivíduos que pregavam liberdades religiosas, ideológicas ou científicas. Essa é e sempre será a mensagem messiânica: o fim da segregação e da discriminação que nascem na pergunta "quem?". O culpado dos males do mundo não é o outro, seja o ladrão, o bastardo, a prostituta, o general ou o sacerdote. Quem Jesus perdoa em seu martírio por não saberem o que fazem não são indivíduos ou grupos específicos, mas o ser humano, a humanidade como um todo.
Um bom cristão que quiser confrontar essa pergunta milenar terá que se reconhecer entre aqueles que não permitem a chegada destes tempos utópicos sonhados pela cultura judaica de Jesus. Terá que se responsabilizar mais do que culpar. Terá que resgatar o Adão que pensava a serpente estar no "outro", quando era parte de si.
Há pouco, num debate na PUC, perguntaram-me como seria o Messias dos judeus. Eu então respondi: seria parecido com Jesus. Afinal é justamente um grupo de judeus que há dois mil anos o identificou como tal. Porque o Messias se traduz por um ser amoroso que não precisa culpar para se redimir, que prefere ser ele mesmo o bode expiatório ao invés de ludibriar sua própria consciência achando que o mal está nos outros.
O Messias para os judeus será alguém como Jesus que virá num dia onde as pessoas não terão que culpar esse Messias e matá-lo. Nesse dia, quando não mais se levantar a insidiosa pergunta "quem?", o Messias de cristãos e judeus (e de todos) terá a mesma essência. Afinal, Jesus morre com a única pergunta santa possível. Ele morre com um "por que?" e não com um "quem?".

Nilton Bonder
Rabino e escritor

sexta-feira, 4 de março de 2011

Deus, a mulher e a serpente


Nada como uma construção teológica baseada em idéias de origem própria, que repentinamente surgiram de uma frase ou de um pensamento que toma forma em meio de um vácuo. No entanto o que veremos nesse texto foi genuinamente desenvolvido a partir de experiências, convivências e pesquisas bibliográficas, será apresentado como uma simples teoria baseada na observação de vários casos que envolvem nossa geração pós-moderna.
A maior criação de Deus foi a humanidade, que foi introduzida nesse mundo com o intuito de relacionar-se com seu Criador. A princípio só existia o homem que era o ser que continha um caráter mais forte, que tomaria as decisões mais sérias e complexas, enfim, que seria o cabeça. Mas essa autêntica e exclusiva criação não estava completa, pois Deus é um ser comunicável e conseqüentemente sua criação também seria, então observando o Criador que o homem caminhava em solidão, decidiu criar uma companheira, ou seja, a mulher, frágil, carinhosa e animadora que estaria ao lado do homem como apoiadora idônea. Foi então que o Todo-Poderoso desenvolveu sua versão do amor exclusivamente para sua criação. O amor Eros criado para ser compartilhado entre o homem e a mulher, um amor único, singelo e eficiente envolvendo ambos como um casal, dividindo as mesmas situações, sendo uma só carne.
 Porem existe uma verdade que está dentro da mulher e que muitas vezes o homem não reconhece. A mulher tem um poder, não se trata de um poder místico, mas sim que envolve a área mental-emocional, pois Deus deu à mulher a habilidade de suporte, onde ela apresenta sua maneira mais eficaz de ajudar ao homem a tomar decisões cautelosas. Porem não foi como imaginaríamos que seria, a partir do momento em que a serpente se inseriu no mesmo ambiente deles tudo começou a distorcer, pois na sua astúcia e audácia decidiu fazer os seus apelos a mulher, pois sabia bem que a mulher era o meio mais fácil de atingir o homem, e assim foi, com a permissão do Criador e sua perfeição ao entregar a liberdade de escolher, a mulher caiu na “lábia” da serpente e induziu ao homem a morder do mesmo fruto proibido que ela já tinha mordido, cavando então esse eterno abismo que existe entre o Criador e sua criação.
Foi assim que se dilatou tanto positivamente e negativamente esse “poder” feminino, e hoje por causa desse primordial acontecimento podemos afirmar que a mulher tem capacidade de construir e destruir a vida do homem, pode tirar a razão do homem e envolve-lo em um êxtase emocional ou pode devolver a razão e trazer o real crescimento nas suas decisões.
A mulher é uma das chaves principais do progresso da humanidade e do homem, pois como propulsora sempre tem as palavras certas para dizer, ao contrário também pode regredir a vida do homem soltando uma rajada de palavras avassaladoras destituído-o de toda graça aprisionando-o delas, levando-o cada dia mais ao consumo da sua alma, da vontade de viver, de ser alguém.
Concluímos que a mulher tem um poder de influência extremamente forte na vida do homem e isso é conseqüência desses dois acontecimentos na sua origem, a perfeita criação de Deus distorcida pelo astuto ar da serpente trazendo assim essa dualidade de poderes onde entram em constante conflito trazendo vitórias e derrotas na vida do homem.
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